Com Guilherme Cotta, cirurgião

As facilidades da vida moderna e a má alimentação não param de fazer vítimas. Como consequência, a obesidade vem crescendo significativamente entre a população mundial. Os EUA lideram o ranking de obesos no mundo, mas o Brasil também se encontra em uma situação crítica nessa área. A última pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde sobre o assunto mostrou que 18,9% da população está obesa e o sobrepeso atinge mais da metade dos brasileiros (54%).

Com isso, a procura pela cirurgia bariátrica, procedimento indicado para casos de obesidade severa, vem crescendo consideravelmente. O Brasil é o segundo país no mundo que mais realiza esse tipo de procedimento – cerca de 80 mil por ano. O Hospital Badim conta com um serviço de referência na área, que realiza a cirurgia por videolaparoscopia, e o Núcleo de Tratamento da Obesidade Mórbida (Nutom), que reúne uma equipe multidisciplinar formada por cirurgião, nutricionista, endocrinologista, clínico, fisioterapeuta e psicólogo, que, juntos, oferecem atendimento completo.

“Uma pesquisa nos Estados Unidos mostrou que uma pessoa que consegue eliminar 10 pontos de Índice de Massa Corporal ganha mais 10 anos de vida. E todos nós queremos ganhar mais tempo de vida com qualidade. É isso que a cirurgia bariátrica, quando feita da forma e com o acompanhamento corretos, consegue oferecer ao paciente”, comenta o cirurgião Guilherme Cotta.

Nessa entrevista, o especialista aborda os pontos mais importantes que envolvem o procedimento e ajuda a tirar as principais dúvidas sobre o assunto.

Quais são os casos em que é indicada a cirurgia bariátrica?
Guilherme Cotta: Pacientes que já estão há cinco anos ou mais em tratamento de obesidade, sem resultado; para quem tem IMC acima de 35, já está em acompanhamento médico há dois anos e possui doenças associadas como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, refluxo, gordura no sangue (dislipidemias), gordura no fígado (esteatose hepática), doenças articulares e outras doenças relacionadas diretamente com a obesidade; e para pacientes com IMC acima de 40.

Como é feita a preparação necessária para o procedimento?
GC: Depois que o paciente recebe o aval do médico que o acompanha para fazer a cirurgia, é hora de escolher o profissional que vai realizá-la. É importante pesquisar referências sobre o cirurgião, pesquisar sobre a técnica que será utilizada e verificar se ele atua com uma equipe multidisciplinar que vai ajudar na preparação da cirurgia e também no acompanhamento pós-cirúrgico. É fundamental também se informar sobre o hospital onde será realizada a cirurgia. A estrutura da unidade pode fazer toda a diferença no sucesso do procedimento. Também é preciso estar com todos os exames pré-operatórios em dia, assim como a consulta pré-anestésica.

É necessário fazer dieta ou engordar para fazer a cirurgia?
GC: Em grande parte dos casos, recomendamos que o paciente perca cerca de 5% a 10% de seu peso antes da cirurgia a fim de melhorar sua condição clínica e aumentar a segurança da operação.

Existe alguma contraindicação?
GC: Pacientes portadores de doenças como cirrose hepática, doenças renais, psiquiátricas, vícios em droga ou alcoolismo e disfunções hormonais não são indicados para realizar a cirurgia.

Quais os benefícios da bariátrica?
GC: A melhoria da saúde em geral. A cirurgia faz cair o IMC, ajuda na reeducação alimentar e cura doenças associadas, especialmente diabetes tipo 2.

Quais as transformações que ocorrem no estômago de uma pessoa operada?
GC: A velocidade do trânsito alimentar muda, reduzindo significativamente a absorção de gorduras. Essa é a principal mudança.

Quais são os principais cuidados a serem tomados após o procedimento e quais as limitações na vida do paciente operado?
GC: O acompanhamento com a equipe multidisciplinar é fundamental. No primeiro ano após a cirurgia é importante o tratamento mais intensivo com todos os especialistas; depois, prolongamos o tempo entre as consultas, até completar cinco anos, quando o paciente recebe alta. Além disso, a pessoa deve manter um criterioso horário alimentar, não faltar às consultas, ir às reuniões marcadas pelos médicos que estão acompanhando o caso e inserir a atividade física na rotina.

Como funciona o Nutom?
GC: Começamos a acompanhar o paciente antes da cirurgia, no consultório. O tempo total desse acompanhamento varia, dependendo das condições que o paciente chega até a gente e como será sua experiência após a operação. O fato é que ele precisa ser preparado para a vida pré e pós bariátrica.

A pessoa que faz bariátrica ganha um “novo” corpo, muda radicalmente o visual. Como é feito o preparo para ela receber e aceitar a nova vida?
GC: O estilo de vida realmente precisa mudar radicalmente. Por isso, é fundamental as consultas com o psicólogo. O profissional vai prepara-lo para essa nova realidade e, depois da cirurgia, acompanhar suas adaptações e como ele está recebendo os novos hábitos e visual.