Com Antonino Eduardo, coordenador médico
O Carnaval acabou, mas para muitos foliões a festa deixou uma consequência negativa: a ressaca. Se você não se preveniu contra ela ao longo dos últimos dias, é hora de aprender como fazer para minimizar seus efeitos. Nosso coordenador médico, Antonino Eduardo, dá essas dicas. Confira!
– O que o álcool faz com o nosso corpo?
Antonino Eduardo: O álcool é absorvido pelo estômago, cai na corrente sanguínea e se distribui por todas as células. Quando chega ao cérebro, o efeito é, inicialmente, a excitação, pois há liberação da serotonina, neurotransmissor que provoca a alegria, satisfação, desinibição, aumento da coragem, enfim, tudo aquilo que podemos observar de euforia durante a ingestão alcoólica. Porém, após o primeiro momento, ele passa a atuar inibindo a serotonina e aumentando um outro neurotransmissor chamado GABA, que pode provocar inibição, perda da consciência, em doses excessivas pode levar ao coma e até a morte por intoxicação.
– Que malefícios ele traz pra gente?
AE: Os malefícios são determinados pelo excesso e pela frequência no consumo, ou seja, beber em grande quantidade pode provocar uma intoxicação alcoólica aguda; já beber sempre pode levar ao alcoolismo, que é uma dependência física e psicológica. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas está associado também a diversas ocorrências, em especial acidentes de trânsito, casos de violência doméstica ou na rua, em função do efeito excitatório do álcool.
– Por que sentimos tanta dor de cabeça e enjoo ao beber demais?
AE: Os sintomas estão relacionados à questão hepática, por causa da intoxicação aguda que pode ocorrer de seis a oito horas após o consumo alcoólico, podendo durar até 24 horas. Há várias teorias relacionadas aos motivos desses sintomas ocorrerem. A mais aceita é que acontece uma manutenção das taxas das enzimas hepáticas no sangue, mesmo após parar a ingestão e o álcool ser eliminado. Com isso, há alterações em níveis de transmissores que provocam dor de cabeça, enjoo, vômitos, dores no corpo, devido, principalmente, à desidratação.
– O álcool pode provocar alguma mudança irreversível em nosso organismo? Quais?
AE: Sim, sem dúvida. As lesões hepáticas levam à cirrose alcoólica, que estão relacionadas ao uso excessivo e frequente do álcool. A cirrose hepática é irreversível e há outras doenças graves que podem ser causadas também pelo abuso dessas bebidas, como é o caso da pancreatite. Estamos falando dos danos físicos, mas tem ainda o quadro psicológico e psiquiátrico. A OMS classifica a psicose alcoólica como doença do alcoolismo. Todas essas são doenças graves, com potencial de mortalidade extremamente alto, provocadas pelo consumo excessivo do álcool.
– O que podemos fazer para diminuir a ressaca ou fazer com que ela acabe logo?
AE: Em primeiro lugar, evitar o excesso, beber com moderação. Porém, se esses limites não forem observados, três fatores são bastante importantes. O primeiro é não beber de estômago vazio, porque aumenta a absorção alcoólica. Deve-se sempre comer algo ao beber ou antes de começar o consumo da bebida. A segunda questão está ligada à hidratação: ingerir bastante líquido, de preferência água, pois isso vai diluir a quantidade de álcool na corrente sanguínea, reduzindo, então, a absorção do álcool e diminuindo as quantidades que serão absorvidas. O terceiro fator está relacionado ao intervalo das doses; se a pessoa beber muito rapidamente, vai ter uma ressaca mais intensa porque existe um limite de absorção de álcool pelo fígado a cada hora. O fígado não consegue absorver, por exemplo, mais de uma taça de vinho ou uma lata de cerveja a cada hora, então, se aumentar o espaço entre as doses, respeitando o limite de absorção hepática, o resultado da ressaca será mais brando.