Com Rafael Linhares, anestesiologista
Você sabia que recentemente a definição de dor foi revisada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor? Isso não acontecia há quatro décadas. O que isso muda para você, paciente?
Anteriormente, a Medicina só considerava que a dor era proveniente de uma lesão nervosa, a chamada dor neuropática, aquela que pode ocorrer pela compressão de um nervo próximo a coluna vertebral, por exemplo. Ou ainda, a chamada dor nociceptiva, que é provocada a partir do estímulo aos chamados ‘receptores de perigo’, ou seja, aqueles que dão um sinal de alerta que existe algo errado no nosso organismo. Pode ser uma dor muscular, ligamentar, de algum órgão etc. “São dores mecânicas associadas a traumas, lesões e inflamações”, diz Rafael Linhares, anestesiologista do Hospital Badim.
Com a mudança, a Medicina passa a reconhecer as dores nociplásticas, aquelas que advém do aumento da sensibilidade do sistema nervoso central, ou seja, quando os receptores da dor são estimulados sem causa evidente. Alguns nichos são mais afetados com esse tipo de dor, como a população idosa, pessoas com deficiência ou com fibromialgia, que têm reclamação prolongada de suas dores.
“Essas são as dores ‘inexplicáveis’, de difícil identificação, que acometem cerca de 2% dos indivíduos, isso significa em torno de 4 milhões de brasileiros que, se não tratados dos seus males, acabam gerando um gasto elevado ao sistema de saúde, sem falar que as dores crônicas os tornam improdutivos e provocam o distanciamento do convívio social”, aponta o anestesiologista.
Para o médico, embora sutil, a mudança é importante para ampliar o diagnóstico de pacientes com dores crônicas e iniciar o tratamento precocemente, ocasionando menor dano à sua saúde. “É preciso que a sociedade entenda que a dor prolongada afeta o bem-estar físico e social das pessoas e que é necessário cuidar delas de forma multidisciplinar”, defende Linhares, que tem título da área de atuação em dor da Sociedade Brasileira de Anestesiologia e da Associação Médica Brasileira. Ele adianta que, em breve, o Hospital Badim oferecerá um serviço específico para esse fim: a clínica da dor.