Com Maurício Forneiro, coordenador da Clínica Médica

Emagrecer, ao contrário do que muitos pensam, não é necessário somente por questões estéticas. A obesidade é um fator de risco para doenças graves, como AVC e infarto. Além disso, a alimentação adequada é ponto básico para uma saúde em dia. Colocar em prática esses conceitos nem sempre é fácil de conciliar com o cotidiano e ainda há fatores fisiológicos que podem interferir no processo de emagrecimento. Nesses casos, a ajuda médica é fundamental para que a sensação de ‘nadar contra a maré’ não desestimule as mudanças importantes no estilo de vida.

O endocrinologista Maurício Forneiro, do Hospital Badim, explica que os vilões do emagrecimento nem sempre são os responsáveis pelo ganho de peso. Os principais fatores que podem atrapalhar a perda de peso são: apneia do sono, estresse, ovário policístico, alterações da tireoide, síndrome metabólica e resistência à insulina. O conjunto dessas duas últimas manifestações é considerado uma das principais comorbidades da obesidade, podendo avançar para diabetes tipo 2 e até câncer. A síndrome metabólica tem relação com a resistência à insulina, tendo como uma das causas a ingestão de carboidratos simples, como pão, macarrão, arroz etc.

O especialista esclarece que a apneia do sono acontece pela obstrução parcial ou total da via respiratória durante o sono, podendo ter resultado da queda da saturação de oxigênio no sangue. No momento de crise, há pausas respiratórias, em função da interrupção da passagem de ar pelas vias aéreas superiores, podendo durar de 10 segundos a mais de um minuto. “No caso de pacientes com obesidade ou sobrepeso, essas pausas respiratórias podem ser mais frequentes e vir acompanhadas de roncos intensos. Esse quadro costuma deixar a pessoa muito cansada e sem disposição para as atividades diárias, ou seja, interfere diretamente na qualidade de vida”, destaca Forneiro. O médico acrescenta que quando o problema não é tratado, pode desencadear doenças cardiovasculares, como infarto, AVC e hipertensão arterial.

Considerado o mal do século, o estresse também gera alterações metabólicas, interferindo na produção de substâncias que criam bloqueio ao emagrecimento. “Isso acontece porque quando estamos estressados, as taxas de liberação de adrenalina e cortisol aumentam na corrente sanguínea e, com o tempo, vai havendo redução do gasto calórico e, no sentido contrário, aumento da taxa de gordura”, conta o médico. Forneiro salienta que esse processo pode ser causador de diabetes, pressão alta e afetar o sistema imunológico.

De acordo com um levantamento da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), há ligações estreitas entre obesidade e Síndrome de Ovário Policístico (SOP). O estudo revela que a maioria das mulheres com SOP está acima do peso ou é obesa. O emagrecimento, nessa conjuntura, pode trazer benefícios clínicos nas características reprodutivas, hiperandrogênicas e metabólicas da SOP.

Já quanto o fato de as alterações na tireoide afetar a perda de peso, o endocrinologista lembra que a função dessa glândula é produzir hormônios que atuam no controle da dinâmica das células do corpo, como, por exemplo, no gasto calórico, retenção de líquido, estímulo de apetite, qualidade de sono, concentração, libido e até no ganho de peso. “Um desequilíbrio nesse sistema, pode levar o paciente a uma alta atividade da tireoide e, consequentemente, sofrer perda de peso de forma inesperada, dentre outros sintomas que, em conjunto, levam à doença conhecida como hipertireoidismo. No hipotireoidismo, quando há uma baixa na atividade da glândula tireoide, o resultado é o ganho de peso corporal e composição de gordura”, explica o endocrinologista.