Com Celso Dantas, cirurgião e urologista
As novas diretrizes para o tratamento da cistite na mulher estão determinadas por meio de um tratado assinado entre as Sociedades Brasileiras de Imunologia, Urologia, Patologia Clínica/Medicina Laboratorial e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, tendo como objetivo o controle mais eficaz da doença. Cerca de 50% do público feminino será atingido pelo problema pelo menos uma vez ao longo da vida, segundo estudos da Sociedade Brasileira de Urologia. Os protocolos inovadores buscam unificar os tratamentos terapêuticos desse tipo de infecção com base em evidências clínicas, dando maior atenção às relacionadas à prevenção, higiene e uso de medicamentos específicos.
O uso correto dos antibióticos está no cerne do tratado. Esse fator é um dos muitos citados pelos especialistas de vários países que participaram de uma pesquisa publicada no periódico da Associação Médica Americana. Os profissionais chegaram ao consenso de que o uso moderado desses medicamentos previne a recorrência da infecção urinária. O ideal é utilizá-los por tempo limitado e evitar as subdoses, assim como reservar os medicamentos mais potentes apenas para os casos mais graves, dando sempre prioridade aos remédios disponíveis no SUS, visando o acesso ao tratamento da doença mais fácil a todas as classes sociais. Essa nova estratégia tem relação com a prevenção de surgimento de bactérias resistentes.
Outro entendimento diz respeito aos processos de prevenção através da ativação do sistema imune (imunoprofilaxia), que os médicos agora acreditam que possa seguir um modelo semelhante às vacinas, com uso de cápsulas com pequenas quantidades de bactérias que vão ajudar o organismo a reconhecê-las e, assim, proporcionar uma ação mais eficiente nos casos de infecção.
Hábitos de prevenção
A higiene também ganhou atenção especial nas novas recomendações médicas. De acordo com os novos estudos, o uso de ducha íntima não é ideal, pela possibilidade do hábito alterar as bactérias que transitam pela vagina e uretra, modificando o Ph e a mucosa dessa região, o que favorece a proliferação de microrganismos. “O mais seguro é fazer a higiene dessa região com água e sabonete neutro, evitando o uso de produtos antibacterianos ou que tenham perfume, pois eles podem alterar a microbiota vaginal. Após evacuar, é importante a mulher fazer a higiene sempre na direção da vagina para o ânus. Outra recomendação é urinar após a relação sexual, pois dessa fora, há possibilidade das bactérias que tiveram acesso à uretra durante o ato, serem expulsas do organismo pela urina. E o uso da camisinha continua sendo a recomendação prioritária”, esclarece o médico urologista Celso Dantas, do Hospital Badim.
Mudanças no estilo de vida no sentido de buscar medidas mais saudáveis estão entre os novos protocolos. Beber água é uma das recomendações mais enfatizadas pelos médicos. Dantas destaca que a água ajuda na prevenção da infecção urinária pela sua capacidade de diluição de elementos na urina. “O grande volume do líquido promove a redução, proporcionalmente, da quantidade de bactérias, além de ajudar a precaver a formação de cálculos urinários, em função da mesma lógica da diluição, sendo que neste caso trata-se de diluição dos cristais de cálculos”, explica. O médico acrescenta: “A quantidade ideal é um litro e meio de água por dia. O indivíduo deve observar a cor da sua urina para saber se está bem hidratado. Se ela estiver num tom amarelo-claro, o organismo está hidratado, mas se a urina estiver escura, é sinal de que o corpo precisa de mais água”, esclarece o urologista.
No caso do chá e do café, que muitas pessoas gostam de alternar com a água, o médico chama a atenção para a composição desses produtos, que possuem cafeína, podendo representar risco de aparecimento das famosas pedras urinárias, estimuladas pelo componente oxalato.
Há outras dicas que podem ajudar muito na saúde feminina. O uso de roupas íntimas de algodão também se mostra melhor que as sintéticas na prevenção da infecção, pois proporciona uma melhor ventilação no local. Na alimentação, uma dieta balanceada pode evitar vários problemas no campo urológico. “Priorize frutas, verduras, legumes, grãos integrais e carnes magras, que entregam nutrientes importantes à nossa imunidade. O suco de cranberry, com as suas propriedades antioxidantes e imunomoduladoras, é uma excelente opção para ajudar na prevenção da infecção urinária”, destaca Dantas.
O urologista lembra que quando uma infecção urinária não é tratada de forma adequada, as bactérias causadoras da doença podem avançar para os rins e alcançarem outras partes do organismo, desencadeando uma infecção generalizada, que por sua vez pode levar ao óbito. Os sintomas clássicos da infecção urinária são dor ou queimação ao urinar, sensação de peso na bexiga, vontade constante de urinar, apesar de o líquido ser eliminado em pequenas quantidades, na cor escura e com cheiro forte.