Com Camila Pupe, neurologista
Estresse, ansiedade, medo e preocupação são os gatilhos mais comuns da enxaqueca. Na pandemia, esses sintomas levaram muitos pacientes com queixa de dor de cabeça – sintoma clássico da enxaqueca – aos consultórios online, à emergência e até, erroneamente, à automedicação. Segundo os especialistas, a mudança na rotina, a alimentação inadequada, o sono desregulado, o isolamento prolongado, dentre outros fatores associados à Covid-19 têm sido as causas principais das crises de dor de cabeça, que vêm acometendo a um número maior de pessoas e também com maior frequência. A sobrecarga no campo profissional e a instabilidade financeira também têm sido os vilões mais prováveis do agravamento da doença na sociedade. “Uma crise de enxaqueca pode durar até 72 horas, mas ela pode alcançar um quadro crônico, isso quando ela se manifesta num período de 15 dias durante um mês. A dor pode ser intensa e costuma provocar náuseas e/ou vômitos e sensibilidade a luz e ao som. Em geral, sua localização ocorre em um dos lados da cabeça, podendo ser pulsátil”, explica a neurologista do Hospital Badim, Camila Pupe. A médica cita outras fontes da dor de cabeça: jejum prolongado, baixo consumo de água, excesso de bebidas à base de cafeína ou álcool, sedentarismo, alimentos gordurosos ou muito condimentados. A enxaqueca é a segunda doença mais comum do mundo, atingindo 15% da população global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No ranking das enfermidades mais incapacitantes, ela está na sexta posição, também sendo uma das principais causas da queda de produtividade no mercado de trabalho. Tratada no campo da neurologia e com origem genética, a enxaqueca é mais decorrente no sexo feminino (14%), contra 7% de casos registrados em homens. “E na mulher, as crises de dor de cabeça podem agravar ou intensificar os episódios de oscilações de humor, irritabilidade e outros distúrbios cognitivos, como desatenção”, destaca a médica. A especialista frisa que, mesmo na pandemia o paciente que desenvolve a enxaqueca deve procurar ajuda médica ao invés de praticar a automedicação. “O que tem acontecido é que as pessoas, com receio de irem à emergência ou consultório médico, têm tomado remédios por conta própria. O excesso de anti-inflamatório e analgésico pode desencadear a chamada ‘dor de cabeça por abuso de analgésico’, que gera dor mais intensa e pode agravar o quadro clínico do paciente”. Camila acrescenta que a disfunção deve ser controlada com remédios adequados e hábitos de vida saudáveis. “Ainda estamos em um cenário de pandemia, mas o paciente que sofre de enxaqueca deve tentar controlar a ansiedade, buscando práticas que lhes tragam tranquilidade e evitar ao máximo as situações que possam trazer aborrecimentos e desconforto emocional”, orienta a médica.