Com Alexandre Scotti, cardiologista

A relação entre estresse e hipertensão está num fenômeno conhecido como ‘luta’ ou ‘fuga’, que leva o corpo a liberar maior quantidade de hormônios, principalmente adrenalina e cortisol, que têm como efeito colateral a alta da pressão arterial. Esse processo funciona como um dispositivo: o cérebro interpreta algo como perigo e prepara os comportamentos de ‘luta’ ou ‘fuga’. Nesse momento, um volume maior de sangue chega aos músculos, no intuito de possibilitar uma reação. Atualmente, a rotina acelerada e a pandemia vêm subindo consideravelmente a escala de tensão e nervosismo, provocando a sobrecarga contínua das artérias, o que pode representar uma porta aberta para o infarto, AVC e outros problemas cardiovasculares.

“O estresse contínuo mantém a pressão elevada, assim como a produção de glóbulos brancos, células do sistema de defesa que, em excesso, prejudicam a circulação do sangue nas artérias. Esse cenário eleva o risco de doenças cardiovasculares”, explica o coordenador da Unidade Cardiointensiva do Hospital Badim, Alexandre Scotti. O especialista destaca que o paciente hipertenso, além do acompanhamento médico regular, deve buscar formas de controlar o estresse, adotando hábitos alimentares saudáveis e combatendo o sedentarismo. E, claro, evitar as situações de tensão.

A pesquisa Adaptação social em estresse na pandemia de Covid-19: um estudo transcultural, coordenada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e realizada com participantes de 24 países, entre maio e agosto de 2020, revelou que os brasileiros estão entre os mais estressados. Dentre os motivos da mudança de comportamento estão o baixo nível de empatia, o desgaste emocional, sofrimento e aumento do individualismo. O panorama apontado no estudo é preocupante, principalmente para o hipertenso. “Os distúrbios emocionais são fatores de risco para a hipertensão porque interfere nos hábitos, podendo levar a pessoa fumar mais ou voltar ao tabagismo, a diminuir as atividades físicas e a comer mais, aumentando a possibilidade de obesidade, que por sua vez reflete no nível de colesterol”, relaciona o médico.

O cardiologista dá dicas para ajudar a equilibrar a relação entre estresse e hipertensão, proporcionando qualidade de vida:

  • A prática regular de atividades físicas reduz e mantém a pressão do sangue em níveis normais durante e após os exercícios;
  • Experimente técnicas de relaxamento, pois elas envolvem concentração e neutralização de problemas externos;
  • Monitore a pressão regularmente;
  • Mantenha dieta equilibrada e sem excesso de sal;
  • Evite hábitos nocivos, como o tabagismo e o excesso de bebidas alcoólicas.