Com Alexandre Scotti, cardiologista

Os níveis elevados de colesterol, ou seja, gordura no sangue, figuram entre os principais fatores de risco para infarto agudo no miocárdio e Acidente Vascular Cerebral (AVC), duas doenças que mais matam no mundo. Com o colesterol alto, é possível que placas de gordura se acumulem nas artérias, causando a obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo que chega ao coração e ao cérebro. Durante a pandemia, a Sociedade Brasileira de Cardiologia emitiu um alerta para os perigos das taxas elevadas desse componente, destacando que o problema pode levar ao agravamento de comorbidades que, em pacientes com Covid-19, podem levar ao óbito. Para conscientizar a população em relação a essa ameaça silenciosa à saúde, em 8 de agosto foi criado o Dia Nacional de Combate ao Colesterol, estimulando o exame preventivo de sangue para detectar a doença e, se necessário, o tratamento especializado.

Produzido no organismo, o colesterol é um tipo de gordura que também está presente em quase todos os alimentos e tem como tarefa manter as células em atividade, na produção de hormônios e bile, metabolização de vitaminas, dentre outras funções. A sua alteração, geralmente, acontece de forma silenciosa e pode ter ligação não somente com fatores alimentares, mas também hereditários. Por isso, pode acometer tanto pessoas com problemas de obesidade como magras. O componente se apresenta em duas condições: o colesterol “bom” (HDL) e o “ruim” (LDL).

“Enquanto o colesterol ‘ladrão’ favorece o depósito de gordura nas artérias, o ‘herói trabalha para expulsar o excesso de gorduras das artérias”, define o coordenador da Unidade Cardiointensiva do Hospital Badim, Alexandre Scotti. O especialista destaca que uma das consequências dos níveis elevados de colesterol LDL no sangue são doenças cardiovasculares.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mais de 380 mil brasileiros vão a óbito em decorrência de problemas cardiovasculares, anualmente. Essa estatística corresponde a 30% das mortes no país. Outras 14 milhões de pessoas, aproximadamente, relatam algum tipo de problema no coração. Na pandemia, a SBC observou o aumento de casos dessas enfermidades, em decorrência da quarentena e do medo dos pacientes em retornar aos tratamentos e atendimentos nas unidades médicas.

No controle das doenças cardiovasculares, os especialistas observam as taxas de colesterol, além dos fatores genéticos e riscos associados. Uma das doenças desencadeadas pelo colesterol ruim no sangue é a aterosclerose, caracterizada por uma placa que se forma na artéria. É um problema degenerativo, provocado pelo acúmulo gradativo de gordura e outras substâncias no interior das artérias do coração e do cérebro, que impede a passagem do fluxo sanguíneo na quantidade em que os órgãos necessitam para o funcionamento normal. Com o tempo, o processo pode levar à angina do peito, infarto do miocárdio, AVC e aneurismas. Se infectados pela Covid-19, os pacientes com essas comorbidades correm um risco elevado de ir a óbito, pois o novo coronavírus causa danos ao coração e cérebro. A taxa de letalidade em pacientes cardiopatas e com problemas cerebrais, ao contrair a Covid-19, é de até 10,5%, segundo a SBC.

Os níveis de colesterol ruim se devem, principalmente, ao consumo excessivo de gorduras saturadas e trans, presentes em alimentos de origem animal e produtos ultraprocessados. “70% do colesterol é produzido no fígado e os outros 30% vêm dos alimentos consumidos”, afirma o médico. Scotti destaca que a prevenção dessa doença deve começar ainda na infância, por meio de hábitos saudáveis. O médico cita algumas medidas importantes para evitar o colesterol alto e, consequentemente, as doenças cardiovasculares:

  • Nada de sedentarismo: praticar atividades físicas regulares, pelo menos de 30 a 40 minutos/dia por quatro vezes na semana;
  • Cuidados com a saúde: fazer acompanhamento médico para o controle da pressão arterial e do diabetes;
  • Hábitos saudáveis: manter uma alimentação adequada, priorizando as frutas, verduras e carnes magras; evitar: carnes vermelhas, ovos, derivados do leite, produtos ultraprocessados (biscoitos, margarina, salgadinhos de pacote, comidas congeladas, bolos prontos e sorvete com gordura trans);
  • Olho na balança: manter o controle da obesidade;
  • Evitar os vícios: combater o tabagismo e excesso de bebidas alcoólicas.