Com Guilherme Cotta, cirurgião geral e bariátrico
Um estudo publicado em agosto no European Heart Journal aponta que o aumento do Índice de Massa Corporal (IMC) colabora para o surgimento de doenças cardiovasculares. Correlações feitas por pesquisadores associam o aumento do IMC a maiores riscos de doença cardíaca coronária, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, acidente vascular cerebral isquêmico e hipertensão, situação preocupante já que a última Pesquisa Nacional de Saúde revela que 60% dos brasileiros, acima de 18 anos, já estava acima do peso.
Para quem está com sobrepeso, a recomendação é procurar um médico para fazer um tratamento indicado conforme seu estado de saúde e seguir um programa de reeducação alimentar, com nutricionista, para reduzir o IMC. Mas para quem está muito acima do peso adequado e já tentou o tratamento convencional sem sucesso, a opção é a cirurgia bariátrica.
“Trata-se de um procedimento onde o sistema digestivo é alterado para diminuir a capacidade de armazenamento pelo estômago ou para modificar o processo do processamento de alimentos pelo organismo. A ideia é reduzir drasticamente a quantidade de comida absorvida. Existe mais de uma técnica cirúrgica de bariátrica. O estômago pode ser grampeado com material especial ou cortado. Um médico deverá avaliar cada caso”, destaca Guilherme Cotta, cirurgião bariátrico do Hospital Badim e membro da International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders (IFSO) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Podem passar pelo procedimento pessoas com IMC maior que 35 e que apresentem comorbidades tais como, diabetes tipo 2, apneia do sono, hipertensão arterial, dislipidemia, doença coronariana e as osteoartrites. E também, os indivíduos com IMC maior que 40, quando estão com a chamada obesidade mórbida, independente de comorbidades.
“Realizada com toda a segurança e planejamento, a operação tem riscos muito pequenos, como qualquer outro procedimento cirúrgico. Precisando apenas de exames preliminares, acompanhamento médico, psicológico e nutricional”, explica Cotta, que coordena o Núcleo de Tratamento da Obesidade Mórbida (NUTOM), existente no Hospital Badim.
Amplamente coberto pelos planos de saúde, o procedimento é seguro e, geralmente, o paciente apresenta rápida recuperação. Cotta atribui esse resultado aos atendimentos pré e pós-cirúrgicos.
“É importante, por exemplo, fazer um bom pré-operatório que vai possibilitar a identificação de outras doenças associadas. Esse histórico ajuda a definir qual o tipo de cirurgia deve ser realizado”.
Outro ponto importante levantado pelo especialista é o acompanhamento com uma equipe multiprofissional, composta por médicos, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas, para orientar o paciente antes e após a cirurgia.
“É fundamental seguir as restrições do nutricionista, como apenas ingerir líquidos nos primeiros dias após o procedimento. Também é importante fazer o acompanhamento por meio de consultas e exames laboratoriais periódicos, de acordo com a orientação médica. O tempo de recuperação dos pacientes é variável e, em alguns casos, o retorno às atividades normais pode se dar em apenas 15 dias”, diz o médico.
A cirurgia bariátrica, além de reduzir os riscos de problema cardiovasculares, ainda contribui para eliminar outras complicações causadas pelo excesso de peso, como hérnia de disco e problemas articulares, dificuldades respiratórias e apneia do sono, embolia pulmonar e até alguns tipos de câncer, como de útero, mama e intestino grosso.
“Isso sem falar na recuperação da qualidade de vida e da autoestima”, ressalta Guilherme Cotta.