Se você sente azia e tem aquela sensação de queimação no peito depois de uma refeição, principalmente à noite, você não está sozinho. Aproximadamente 25 milhões de brasileiros sofrem da doença do refluxo, de acordo com dados do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBC). O nosso gastroenterologista, Rodriguo Rodrigues, tem percebido um número crescente de pacientes no consultório com esta queixa. “O problema pode ser observado diariamente no consultório, tanto na captação de sinais e sintomas, como durante os procedimentos de endoscopia”, relata ele.

Rodrigues explica que há vários fatores que contribuem para o número cada vez maior de pacientes com refluxo. “Isso se dá, em grande medida, pelo estilo da vida moderna por conta das alimentações rápidas, com altos teores de gordura e carboidratos, refrigerantes e outras bebidas gasosas. Cada vez menos as pessoas destinam um tempo adequado para suas refeições, principalmente à noite. Além disso, o sobrepeso e a obesidade, cada vez mais frequentes na população, são fatores dos mais significativos na geração da doença do refluxo”, salienta.

Rodriguo Rodrigues tem percebido aumento no número de pacientes com queixa de refluxo no consultório.

O início do tratamento do refluxo é feito com o uso de medicamentos para controle da secreção ácida, podendo ou não estar associado a medicações que estimulam o esvaziamento gástrico. Essas medicações serão mantidas enquanto se promovem as devidas correções dos fatores comportamentais que podem causar o refluxo. “A doença tem cura, mas quando ‘atacados’ os fatores geradores do refluxo. Ou seja, o paciente deve reorganizar sua rotina alimentar, se possível com ajuda de um nutricionista, praticar atividade física e controlar o peso corporal. Se o tratamento se basear apenas no controle do ácido gástrico, os pacientes ficarão reféns dessas medicações”, alerta o médico.

Mas nem sempre a causa do refluxo é o estilo de vida e maus hábitos alimentares. Rodrigues chama a atenção para a importância da avaliação por meio da endoscopia. “Com este exame, podemos avaliar a presença de alterações anatômicas, como hérnia de hiato por deslizamento, por exemplo. Muitas vezes essas alterações anatômicas irão demandar correção cirúrgica”, afirma.

Amidalite ou refluxo?

Nosso especialista aponta que alguns sintomas do refluxo podem confundir os pacientes. “O refluxo crônico pode promover estreitamentos do esôfago, gerando dificuldades ao engolir (disfagia). Refluxos intensos que sobem até a traqueia podem gerar dor de garganta, rouquidão, tosse crônica, dispneia e sintomas sugestivos que simulam asma e com frequência os pacientes acabam buscando outros especialistas, como otorrinos ou pneumologistas”, ressalta. E o nosso gastroenterologista e endoscopista faz um alerta: “A inflamação crônica esofagiana gerada pelo refluxo pode promover mudanças celulares e até risco de câncer”.

Entre as recomendações do médico para prevenir o refluxo estão controlar o peso corporal e manter hábitos alimentares regulares, com refeições em porções menores e com pequeno teor de gordura. Também não se deve ingerir líquidos junto às refeições. “É importante dar um intervalo de, pelo menos, duas horas entre a última refeição e a hora de deitar”, indica.

O que você precisa saber sobre a endoscopia digestiva

A endoscopia digestiva alta é o exame indicado para investigar problemas no esôfago, estômago e duodeno (a primeira parte do intestino delgado). Com o auxílio de um tubo fino e flexível com uma câmera na ponta — o endoscópio — o médico pode visualizar diretamente essas estruturas, identificar alterações e até realizar pequenas intervenções, colhendo material para biópsia ou retirando pólipos, por exemplo. O exame é realizado com sedação, para maior conforto do paciente, e dura em torno de 20 minutos.

A endoscopia é indicada em diversos casos, como dor persistente no estômago ou azia frequente; náusea ou vômitos recorrentes; dificuldade para engolir; sangramentos digestivos (vômitos com sangue ou fezes escurecidas); investigação de anemia sem causa aparente; suspeita de gastrite, úlcera ou refluxo gastroesofágico; acompanhamento de doenças crônicas como esofagite ou esôfago de Barrett e biópsia de lesões suspeitas ou remoção de pólipos.

Nem tudo o que se diz sobre a endoscopia é real. Confira mitos e verdades sobre o exame:

– Endoscopia é um exame doloroso.

Mito. O exame é feito com sedação e o paciente não sente dor. Após o exame, pode haver sensação de inchaço ou leve incômodo ou dor de garganta.

– É preciso estar em jejum para fazer a endoscopia.

Verdade. Para garantir segurança e qualidade na visualização, é necessário jejum absoluto de pelo menos 8 horas antes do exame.

– A endoscopia é perigosa.

Mito. É um exame seguro, com baixo risco de complicações quando feito por profissionais capacitados e com os cuidados adequados, preferencialmente, em unidade hospitalar com mais infraestrutura disponível.

– A endoscopia é um exame rápido.

Verdade. A endoscopia dura, em média, de 15 a 20 minutos, após os quais o paciente é encaminhado a uma área segura onde se recupera da sedação e faz um lanche leve.

– Posso ir sozinho fazer a endoscopia e, logo em seguida, dirigir.

Mito. Devido ao uso da sedação para a realização do exame com maior conforto para o paciente, é preciso levar um acompanhante para garantir sua segurança após o término da endoscopia. Também por esta razão, o paciente não deve dirigir logo após o procedimento.