Dor, cansaço, sensação de peso, de aperto ou de desconforto nas pernas, queimação e ardência, principalmente no final do dia. Estes são alguns dos sinais iniciais de uma doença que, embora comum, não é muito conhecida. A insuficiência venosa crônica, que recentemente ganhou maior divulgação por acometer o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atinge aproximadamente 35% da população brasileira. Adilson Feitosa, nosso cirurgião vascular, explica que a insuficiência venosa crônica decorre de alterações no sistema venoso periférico. Isso ocorre por refluxo ou obstrução nas veias, resultando em aumento da pressão venosa, principal responsável pelos sintomas da doença. “Outro sinal desta condição é o surgimento de varizes, em consequência do enfraquecimento da musculatura e da perda da elasticidade da parede da veia, que pode levar à insuficiência das válvulas responsáveis pelo direcionamento do fluxo sanguíneo. Deste processo resultam as veias varicosas, dilatadas, com sangue estagnado no seu interior”, explica.

Adilson Feitosa salienta que o histórico familiar é um fator importante para o surgimento de varizes e a adoção de hábitos saudáveis é a melhor forma de prevenir o problema.
Entre os sinais de que é hora de buscar ajuda médica especializada, Feitosa destaca ainda edema (inchação) das pernas, principalmente no fim do dia, manchas escuras, principalmente nos tornozelos (a chamada dermatite ocre), endurecimento da pele e tecido gorduroso subcutâneo, a lipodermatoesclerose. “Pode haver ainda equimoses localizadas e até eczema de estase, com importante descamação e prurido, além de ulcerações da pele. Em casos graves, podem surgir feridas, geralmente no tornozelo, hemorragias em determinadas varizes e varicotromboflebite (inflamação de uma veia superficial acompanhada pela formação de um coágulo), com risco de embolia pulmonar no caso de progressão da trombose venosa para as veias profundas”, informa ele.
O diagnóstico é feito por meio do exame físico e leva em conta a história do paciente. “O principal exame complementar é o ultrassom com doppler (ecodoppler venoso colorido superficial e profundo dos membros inferiores), que faz o mapeamento inicial do sistema venoso superficial e profundo na insuficiência venosa crônica e pode ser feito no nosso hospital”, destaca o especialista. Ele acrescenta que o tratamento deve ser individualizado, de acordo com os achados clínicos e o grau de severidade da doença. “Em pacientes sintomáticos ou com edema, recomenda-se o uso de meias de compressão elástica e medicamentos venoativos ou flebotônicos. A escleroterapia está reservada para os casos de microvarizes ou pequenos vasos sanguíneos dilatados, sendo utilizadas diversas substâncias, com bom resultado estético e sintomático. Nestes casos, podemos ainda usar, de forma associada à escleroterapia, o laser específico transdérmico”, orienta o médico.
Feitosa acrescenta que há indicação de cirurgia para os portadores de varizes primárias. “Além de melhorar a parte estética, o procedimento alivia os sintomas e reduz ou elimina os locais de refluxo venoso do sistema profundo para o superficial (hipertensão venosa)”, relata. A cirurgia para a retirada das varizes pode ser feita por meio de microincisões. Em alguns casos, há a necessidade de remoção da veia safena. “Outra opção de tratamento é a termoablação da veia safena com laser endovenoso, procedimento menos invasivo e que proporciona melhor recuperação quando comparado à retirada da veia safena pelo modo convencional. Em pacientes com úlceras e inflamação nos membros inferiores, a chamada dermatolipoesclerose, podemos utilizar a escleroterapia das varizes com espuma densa”, salienta o médico.
O especialista salienta que o histórico familiar é um fator importante para o surgimento de varizes e para para prevenir o problema, ele recomenda a adoção de hábitos saudáveis, como caminhar diariamente, praticar exercícios físicos (musculação sob orientação, funcional, corrida, natação ou bicicleta), evitar sapatos com saltos muito altos ou sem saltos, combater a obesidade, evitar permanecer muito tempo em pé ou sentado sem movimentação, utilizar meias elásticas rotineiramente durante as atividades de trabalho e evitar a constipação intestinal com dieta rica em fibras e boa hidratação. “O hábito de elevar as pernas à noite, em caso de edema dos tornozelos, também facilita o retorno venoso. Com a orientação e acompanhamento de angiologista ou cirurgião vascular, será possível a adequada avaliação e tratamento do paciente, prevenindo a evolução das varizes e o surgimento de complicações futuras”, conclui.