Você cuida da saúde do seu cérebro? Essa cautela é fundamental para manter a sua memória ativa e o funcionamento emocional, sensorial e motor, garantindo o bem-estar e a independência em todas as fases da vida.
Apesar do cérebro ser o centro de comando de todo o corpo humano, em geral, as pessoas pouco conhecem sobre as melhores formas de proteger a saúde do órgão. Muita gente acredita que exercícios como palavras cruzadas e jogos da memória são a melhor forma de preservar a saúde cerebral. No entanto, de acordo com o nosso neurologista, Yuri Macedo, existem formas mais efetivas de preservarmos a performance cerebral ao longo da vida. “O que sabemos hoje é que para mantermos boas funções cerebrais precisamos do corpo saudável de uma forma integral. Isso significa que ter uma boa alimentação e fazer atividades físicas com frequência regular são formas não só de manter a saúde cardiovascular e a estética, mas também as funções cerebrais. É um mito que apenas atividades intelectuais são suficientes para manter uma boa memória no envelhecimento”, adverte.

Yuri Macedo: “Para mantermos boas funções cerebrais precisamos do corpo saudável de uma forma integral: boa alimentação e atividades físicas regulares mantêm não só a saúde cardiovascular e a estética, mas também a do cérebro”.
O especialista reforça que ter um bom grau de instrução e de escolaridade pode ajudar na memória, mas um dos fatores que mais protege o cérebro do acometimento pela Doença de Alzheimer, a demência mais comum em todo o mundo, é justamente a atividade física. “Sabemos que os fatores de risco para as doenças cerebrovasculares, como os Acidentes Vasculares Cerebrais tanto isquêmicos quanto hemorrágicos, são muito semelhantes aos das doenças cardiovasculares”, explica. Ele salienta que alguns destes fatores de risco são modificáveis, como o sedentarismo, a hipertensão, o diabetes, a dislipidemia e hábitos de risco, como o tabagismo. “No entanto, mesmo a pessoa fazendo o autocuidado, que é muito importante, ela pode ter uma condição hereditária ou congênita que facilite a instalação de alguma doença, como uma malformação, que pode causar um AVC em uma criança, por exemplo. No caso da enxaqueca, que pode ter um traço hereditário, não há prevenção. Nós podemos melhorar a qualidade de vida do paciente, controlando a intensidade e a frequência das dores, mas não há como eliminar a condição”, diz.
Macedo acrescenta que, se por um lado o cérebro precisa de algumas rotinas como horas de sono regulares, por outro também há a necessidade de sair da zona de conforto para manter a mente ativa. “Outra forma de ajudar a manter uma boa função cognitiva é aprender atividades novas, que podem ser desde estudar um idioma até uma atividade física como uma dança ou fazer tricô”, recomenda ele.
De acordo com o nosso neurologista, o diagnóstico de doenças neurológicas pode ser um desafio, já que os sintomas são variados e inespecíficos. “O sistema nervoso pode ser acometido por muitas doenças e de muitas formas. Os sintomas das doenças neurológicas são diversos, como fraqueza, alterações da sensibilidade, dor e tontura, esquecimento, entre outros”, ressalta. Ainda segundo ele, sintomas que poderiam ser atribuídos a outros órgãos podem acabar, na verdade, sendo uma questão neurológica. “Por exemplo, muitos pacientes buscariam um otorrino para um quadro de labirintite ou vertigem, no entanto pode ser desde um AVC no cerebelo ou tronco encefálico a uma doença do nervo. O mesmo ocorre com perdas visuais ou alterações na pressão arterial, que podem ter causa neurológica”, explica o médico.
Entre as doenças neurológicas que mais atingem adultos mais velhos e pessoas idosas, Macedo destaca as doenças cerebrovasculares. “De acordo com a faixa etária, há a prevalência de outras doenças cerebrais associadas, como o AVC, que é uma das doenças que mais mata no mundo, além das condições relacionadas à perda cognitiva, como a síndrome demencial, que tem risco aumentado com o avanço da idade”, pondera. Em adultos mais jovens, a enxaqueca é a doença neurológica mais prevalente.
Diferentemente do que acontece com o coração ou com o fígado, por exemplo, não é comum realizar uma rotina de exames de avaliação da função cerebral. “Infelizmente, não fazemos esse check-up de forma regular. Recebo muitos pacientes, por exemplo, que tiveram familiares com Alzheimer, que têm uma experiência traumática com a doença e acabam tendo receio de estarem sofrendo do mesmo problema. Para essas pessoas com história familiar, realizamos um rastreio neuropsicológico e orientação”, conta ele. O diagnóstico pode ser feito por meio de exames de imagem e laboratoriais, para investigar o que pode estar afetando o funcionamento cerebral. “A causa do esquecimento também pode estar relacionada a outras condições, principalmente depressão, hipotiroidismo ou carência de vitamina B12. Em um futuro breve, estou certo de que teremos formas de diagnóstico pré-clínico para diversas condições degenerativas, o que inclui as doenças de Alzheimer e Parkinson”, comenta.
Quando buscar ajuda médica?
De acordo com o neurologista é preciso estar atento aos sinais para procurar atendimento especializado. “No caso de uma dor de cabeça muito intensa, abrupta, que pode ser descrita como uma dor de cabeça em trovoada, que é quando depois de poucos segundos a dor se torna excruciante, é preciso buscar atendimento de emergência. Esse tipo de dor pode significar um sangramento cerebral e precisa de atenção imediata. O mesmo ocorre se houver uma perda de força aguda, uma fraqueza no braço, quando o sorriso fica assimétrico e se a pessoa apresenta dificuldade na fala. Esses são sintomas compatíveis com AVC e doenças mais graves, mais agudas que precisam de uma avaliação de emergência”, orienta Macedo. “Já quando a pessoa tem uma dor de cabeça crônica, às vezes desde a infância ou desde a adolescência, ou que vem em épocas determinadas, como nos períodos menstruais,no caso das mulheres, não é preciso recorrer ao atendimento de emergência e sim a uma consulta ambulatorial”, indica o nosso neurologista.