Muito além da estética e da moda, saber escolher o calçado mais adequado para cada pessoa é fundamental para a saúde dos pés, em particular, e do corpo, de uma forma geral. De acordo com o nosso ortopedista Bruno Povoleri, especialista em doenças que acometem tornozelo e pé, não existe um modelo ideal para todas as pessoas. “O melhor calçado é aquele que se adapta às necessidades individuais. A escolha deve considerar o formato dos pés, o tipo de pisada, o peso corporal, o nível de atividade física diária e eventuais condições médicas, como diabetes e insuficiência venosa. A primeira pode causar neuropatia periférica e perda da sensibilidade nos pés, aumentando o risco de feridas. Já a insuficiência venosa, costuma causar inchaço e desconforto, exigindo calçados mais largos, leves e com boa ventilação”, afirma. Para garantir conforto, segurança e prevenir complicações, nosso médico cita algumas dicas importantes: “em geral, o ideal é optar por calçados com bom amortecimento, solado firme porém flexível, e contraforte (parte posterior) rígido, que ofereçam estabilidade ao tornozelo e suporte ao arco plantar. O conforto deve ser imediato. Sapato que ‘precisa amaciar’ já começa errado”.

Quando o calçado é inadequado e provoca alteração no apoio natural do pé, ocorre um efeito em cadeia: o tornozelo perde estabilidade, o joelho compensa com rotação e a pelve e a coluna se ajustam a essa rotação do joelho. “Esse desalinhamento progressivo pode gerar dores nos joelhos, quadris e lombalgia”, diz. Povoleri explica que, a longo prazo, o uso crônico de sapatos inadequados pode alterar o padrão de marcha, sobrecarregar articulações e até gerar dores em outras regiões, como joelhos, quadris e coluna lombar. Entre os principais problemas que podem decorrer de uma má escolha estão: fascite plantar, metatarsalgia (dor na região anterior nos pés), joanetes (hálux valgo), calosidades e feridas por pressão.

Bruno Povoleri, nosso especialista em doenças que acometem tornozelo e pé, ensina: “opte por calçados com bom amortecimento, solado firme porém flexível, e parte posterior rígida, que ofereçam estabilidade ao tornozelo e suporte ao arco plantar”.

Prevenção

Dor persistente, surgimento de calos, bolhas, formigamento, dormência ou deformidades progressivas devem ser encarados como sinal de alerta para buscar ajuda médica. “O sapato não deve deixar marcas intensas nem gerar desconforto ao final do dia. O corpo costuma avisar quando algo está errado e ignorar esses sinais pode transformar um problema simples em uma lesão crônica”, adverte o médico. “O ortopedista especializado em pé e tornozelo é o profissional indicado para identificar a causa, solicitar exames de imagem quando necessário e orientar o tratamento, que pode incluir palmilhas personalizadas, fisioterapia, mudanças de calçado e, às vezes, tratamento cirúrgico”, completa.

Povoleri recomenda exercícios simples que podem prevenir dores e melhorar a circulação, como alongar a fáscia plantar e o tendão de Aquiles diariamente, principalmente antes da primeira pisada do dia ou ao ficar longos períodos em pé; mover os dedos dos pés e rolar uma bolinha de tênis sob a planta dos pés por alguns minutos ao dia e fortalecer músculos intrínsecos do pé tentando pegar objetos com os dedos ou ficar na ponta dos pés. “Esses cuidados ajudam a manter o pé funcional e resistente às demandas do dia a dia. O segredo para evitar problemas nos pés e tornozelos está na prevenção e na escuta do próprio corpo. Escolher o calçado adequado, manter o peso corporal saudável, praticar atividades físicas regulares e evitar o uso prolongado de um mesmo tipo de sapato são atitudes que fazem diferença, além, claro de manter acompanhamento médico periódico, especialmente para quem já apresenta dor, alterações de pisada ou histórico de lesões nos pés e tornozelos”, conclui.

 

Qual calçado escolher?

De acordo com o nosso especialista, o sapato totalmente baixo (rasteirinha) reduz o amortecimento e pode sobrecarregar a fáscia plantar e o tendão de Aquiles. Já os de saltos médios, de até 4 cm e base larga, costumam ser os mais equilibrados, pois mantêm o alinhamento entre o calcanhar e o antepé. Povoleri explica que os de saltos altos e finos deslocam o peso do corpo para a frente, sobrecarregando os metatarsos e favorecendo deformidades como joanetes e dedos em garra, além de aumentar o risco de entorses do tornozelo.

Confira a lista de grupos de pessoas que devem ter mais atenção na hora de escolher o calçado ideal:

  • pessoas com sobrepeso/ obesidade devem priorizar calçados com bom amortecimento e solado firme, para reduzir o impacto articular;
  • idosos precisam de sapatos leves, antiderrapantes e fáceis de calçar, para reduzir o risco de quedas; 
  • gestantes tendem a apresentar aumento de peso e inchaço, e devem optar por calçados mais largos, confortáveis e estáveis;
  • profissionais que passam o dia em pé necessitam de calçados com suporte plantar adequado, com boa ventilação e confortáveis.
  • pessoas com diabetes merecem atenção especial: devido à neuropatia periférica e à diminuição da sensibilidade nos pés, podem não perceber pequenas lesões que evoluem para feridas por pressão e úlceras. Esses pacientes devem usar calçados sem costuras internas, bem ventilados, com palmilhas macias e espaço adequado para os dedos e 
  • pacientes com insuficiência venosa grave também precisam de calçados amplos, leves e que favoreçam a circulação, evitando compressão excessiva e desconforto, já que costumam apresentar edema e dor nas pernas.