Todo fim de ano é igual e a rotina ganha um ritmo intenso, com festas, confraternizações, música alta e encontros que se multiplicam. Embora esses momentos possam ser marcados por alegria e afeto, a agitação típica do período também pode aumentar os níveis de ansiedade e até agravar quadros de depressão, especialmente em pessoas mais sensíveis a estímulos.

“O período de festas costuma alterar rotinas, aumentar o estresse e incentivar excessos. Quando esses estímulos se tornam constantes, o coração trabalha em velocidade acima do normal”, José Artur Lopes de Albuquerque, cardiologista

Esta época do ano pode trazer uma certa angústia ou inquietação, adverte a nossa psicóloga Helena Camarinha. “O tempo parece que passa mais rápido, de forma mais intensa e vem a pergunta: o que fiz este ano? E neste período em que não temos tempo para pensar e refletir, surge um certo estresse, ansiedade e, às vezes, até depressão. As festas, os encontros são bons e saudáveis. Mas não podemos viver uma agenda tão intensa, onde o ciclo circadiano deixe de regular o ritmo de sono e vigília”, destaca. 

E não é só a mente que sofre. O cardiologista José Artur Lopes de Albuquerque, coordenador da nossa Unidade Cárdio-Intensiva e do nosso CTI Pós-Operatório, alerta que a rotina acelerada ativa os hormônios do estresse, como adrenalina e cortisol. “O período de festas costuma alterar rotinas, aumentar o estresse e incentivar excessos. Quando esses estímulos se tornam constantes, o coração trabalha em velocidade acima do normal: a pressão arterial aumenta, o batimento cardíaco acelera e a inflamação do organismo se intensifica”, frisa ele. “Ao longo do tempo, este padrão pode levar à hipertensão, arritmias, distúrbios do sono e até elevar o risco de infarto, especialmente em pessoas com fatores de risco, como diabetes, colesterol alto e tabagismo”, completa.

Para escapar a este ciclo, o cardiologista recomenda momentos de silêncio e calma, mesmo que curtos. “Estes períodos funcionam como um ‘reset’ fisiológico. Nessas pausas, o sistema nervoso parassimpático é ativado, diminuindo a frequência cardíaca, reduzindo a pressão arterial e promovendo sensação de relaxamento. Além de aliviar o estresse, esses instantes de quietude melhoram a qualidade do sono, aumentam o foco e reduzem a ansiedade. Ficar de 10 a 15 minutos longe das telas, em silêncio, respirando com calma, já ajuda o coração a trabalhar melhor”, ensina nosso cardiologista.

A mente também precisa de pausas, como conta Helena. “Cada um de nós possui seu tempo, seu ritmo, seu limite. Às vezes, podemos chegar no nosso ápice, mas logo precisamos repor nosso equilíbrio, alternando períodos de descanso para retornar ao movimento, à ação. Atuar é bom, repousar também, e precisamos encontrar a medida certa”, diz.

 

“Cada um de nós possui seu tempo, seu ritmo, seu limite. Às vezes, podemos chegar no nosso ápice, mas logo precisamos repor nosso equilíbrio”, Helena Camarinha, psicóloga

Preste atenção aos sinais

O organismo costuma avisar quando o ritmo está pesado demais. Cansaço desproporcional, falta de ar ao mínimo esforço, palpitações ou batimentos irregulares, dor ou aperto no peito, dores de cabeça frequentes e dificuldade de concentração e insônia são alguns dos sinais que devem acender um alerta. “Procure ajuda médica imediata diante de dor no peito, falta de ar intensa, desmaios, suor frio, náuseas ou palpitações súbitas, pois podem ser sintomas indicativos de risco cardíaco. Caso os sinais sejam persistentes, mesmo leves, uma avaliação cardiológica é fundamental, principalmente em pessoas com hipertensão, diabetes ou histórico familiar de doenças do coração”, orienta José Artur.

O especialista recomenda algumas atitudes simples que ajudam a proteger o coração nessa época:

  • Hidrate-se bem, especialmente em dias quentes ou se consumir álcool;
  • Modere nos alimentos gordurosos e salgados, que podem elevar a pressão arterial;
  • Evite energéticos, especialmente combinados com bebidas alcoólicas;
  • Tente manter horários regulares de sono;
  • Caminhadas e atividades leves ajudam a equilibrar o metabolismo;
  • Planeje compromissos com antecedência para não acumular tarefas;
  • Inclua pausas na rotina, mesmo que breves;
  • Não interrompa medicações, sobretudo para pressão, diabetes e coração.

“O mais importante é respeitar os limites do corpo. Fim de ano é tempo de celebrar e não de sobrecarregar o organismo. Com equilíbrio, é possível aproveitar esse período com saúde e segurança”, conclui ele.