Você já ficou internado alguma vez? Já se perguntou como os medicamentos que você toma durante a hospitalização são preparados e chegam até você na dosagem e na hora indicadas para o seu tratamento? Para evitar os chamados erros de medicação – quando há o uso inadequado de medicamento, que pode incorrer em um evento evitável e potencialmente perigoso para o paciente –, há um processo rigoroso que envolve uma série de profissionais: médicos, farmacêuticos e enfermeiros. É a chamada cadeia segura dos medicamentos.
Da prescrição à administração, passando pela avaliação da interação medicamentosa, separação e até o descarte, é o farmacêutico, inicialmente, quem está atento a todo o processo e coordena o serviço em que cada profissional envolvido tem um papel fundamental para o sucesso da assistência, garantindo a eficiência e a segurança nessa cadeia medicamentosa. Em nosso hospital, o medicamento é separado, identificado e entregue personalizado, com o nome de cada paciente em cada posto de enfermagem com uma hora de antecedência da administração. É no posto de enfermagem de cada andar que é finalizado o preparo e levado a cada paciente para a administração da dose prescrita.
Na farmácia: a preparação
O trabalho é cronometrado na ampla sala da farmácia central, onde atuam cerca de sete pessoas, duas farmacêuticas e cinco auxiliares. São 11 horas da manhã e já está sendo separada a medicação que será administrada às 14 horas. “Nosso trabalho é extremamente meticuloso, uma linha de produção que envolve mapas e medicamentos controlados. Nós fracionamos e identificamos os medicamentos, em um processo chamado dose unitária. Cada medicamento é etiquetado com o nome do paciente. Nos horários acordados entregamos para a enfermagem todos os medicamentos prescritos de forma individualizada”, explica a farmacêutica Sheila Pinto, gerente da Farmácia do Hospital Badim. Em média, 200 mil itens são dispensados por mês, segundo ela, que atribui o fato à dedicação da equipe do setor farmácia, que trabalha 24 horas por dia dando suporte a toda a unidade.
Em cada andar, há uma farmácia satélite, também chamada de arsenal, que armazena medicamentos de uso emergencial conforme o perfil de cada setor, garantindo maior agilidade na administração. “O arsenal do CTI, por exemplo, tem medicamentos diferentes das demais. No maior arsenal, o do Centro Cirúrgico, os profissionais da Farmácia são responsáveis pelos carrinhos com os insumos necessários para os procedimentos: medicamentos para controle de náuseas e vômitos, tratamento de infecções e analgésicos; além de materiais como, agulhas, seringas e eletrodos, entre outros. O paciente que termina de fazer cirurgia às vezes precisa se recuperar no quarto. Esse arsenal é composto por diversos curativos e medicamentos para dor e quase não tem outra classe medicamentosa, porque foi planejado para atender esse perfil de paciente. Dessa maneira é possível controlar o estoque, deixando-o enxuto e garantindo a segurança do paciente, assegurando a dispensação do medicamento”, descreve a profissional.
As farmácias satélites são distribuídas de forma estratégica. Uma em cada andar, foram mapeadas em conjunto com farmacêuticos, médicos e direção médica para detectar quais os perfis de urgência e quais os de emergência. A organização foi desenvolvida de modo que a enfermagem não precise se deslocar em busca dos medicamentos. Em cada andar, o posto de enfermagem conta com escaninhos individuais para armazenamento dos medicamentos de cada paciente. A gestão individualizada e o acesso restrito são sinônimo de maior segurança para o funcionário e para o paciente. Antes do fornecimento, um farmacêutico valida todas as prescrições verificando dose, via e interação, sugerindo ajustes e fazendo contato com o médico ou nutricionista, recomendando a solução de interações que possam ocorrer. Pacientes internados, principalmente no CTI, podem chegar a ter prescrição com 30 substâncias diárias diferentes.
Checagem e segurança
Para conferência, foi elaborada uma checklist para a enfermagem avaliar o paciente antes e após administrar o medicamento, observando o paciente para verificar alguma alteração. Medicamentos que precisem de atenção especial, como medicações de uso controlado, são entregues separados, com cor diferente, como vermelha. Todo esse rigor assegura a qualidade do serviço e a segurança em todas as etapas.
O processo conta ainda com uma auditoria mensal das validades de todas as medicações em cada posto de todos os andares, minimizando a possibilidade de perdas e o risco do uso de produtos vencidos. Duas vezes ao dia, a equipe recebe o ressuprimento, mantendo o controle do estoque informatizado. Cada dose de medicamento dispensada é registrada. O controle é rígido. Concluindo o processo, o descarte é realizado em embalagens indicadas para cada tipo de produto, dando o fim adequado e evitando contaminação.
“Costumamos dizer que a Farmácia é o ‘coração’ do hospital porque sem medicamento não temos como ajudar a maioria dos pacientes. Porém não é somente fornecer o medicamento, mas conduzir da maneira correta. Precisamos desse olhar técnico do farmacêutico para garantir êxito no tratamento. O farmacêutico é capaz de otimizar os recursos do hospital com processos alinhados, e principalmente de contribuir com a segurança para o melhor resultado para o paciente”, conclui Sheila.