Com Guilherme Cotta, cirurgião bariátrico

O relatório anual sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, divulgado recentemente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, mostrou que pela primeira vez o número de pessoas com obesidade (830 milhões) superou o de quem passa fome (820 milhões) no mundo. E o grande vilão é o alto consumo de alimentos ultraprocessados, de acordo com a agência da ONU.

Dados do Ministério da Saúde apontam que o Brasil vem seguindo essa tendência. Entre 2006 e 2018, a quantidade de obesos no país aumentou 67%. Aqui, uma em cada cinco pessoas está obesa e mais da metade da população tem sobrepeso. “A obesidade se tornou uma epidemia mundial e perdemos o controle disso. É necessário que as autoridades encarem a obesidade como uma questão de saúde pública e que criem políticas para estimular a produção de alimentos mais saudáveis e acessíveis”, comenta o cirurgião bariátrico, Guilherme Cotta.

O aumento da população mundial contribui ainda mais para o crescimento da produção de alimentos industrializados, muitas vezes mais baratos e não perecíveis. Esse tipo de alimento tem baixo valor nutricional, alto valor calórico e grande concentração de sal, gorduras saturadas e açúcares que colaboram para o ganho de peso e o aparecimento de doenças relacionadas à obesidade, como diabetes, problemas cardiovasculares e alguns tipos de câncer.

“Estimular o consumo de alimentos saudáveis desde a infância, por exemplo, pode ajudar muito na redução dos índices de obesidade. E isso pode ser feito pelo Estado nas escolas, na orientação às famílias. A implementação de bons hábitos, seja na alimentação ou na prática de atividades físicas, por exemplo, tem um custo muito menor do que o tratamento posterior das doenças causadas pela obesidade”, opina Cotta.

A vida sedentária e o pouco tempo dedicado a cozinhar e a comer de forma consciente também atuam negativamente para o ganho gradativo de peso. “Nem sempre sabemos se estamos comendo porque temos fome ou apenas vontade de comer. Saber identificar essas duas necessidades pode fazer toda a diferença no controle do peso corporal e na saúde”, ressalta o médico. Quer saber mais sobre as diferenças entre fome e apetite? Veja aqui.