A dor lombar é praticamente uma epidemia moderna. O alerta é do nosso ortopedista especialista em coluna, André Costa. De acordo com informações do estudo Global Burden of Disease, o problema é a principal causa de incapacidade no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a dor lombar deverá afetar 843 milhões de pessoas até 2050. “O aumento de casos vem do nosso estilo de vida: ficamos horas sentados, nos movimentamos pouco e acumulamos sobrepeso. Esse padrão de comportamento sobrecarrega a coluna e acelera processos degenerativos. Estamos nos mexendo menos e envelhecendo mais. A The Lancet Rheumatology mostrou que a prevalência da dor lombar cresce junto com o sedentarismo e o aumento da obesidade. O dado da OMS é um alerta sobre o impacto social disso: mais afastamentos do trabalho, mais gastos em saúde e perda de qualidade de vida”, avalia.

André Costa, ortopedista especialista em coluna, sobre dor lombar: “O importante é entender que a dor é um sintoma, não um diagnóstico em si. Cada tipo precisa de uma abordagem específica”.
O especialista afirma que o problema é mais comum em pessoas com idades entre 30 e 60 anos. “Mas hoje já vemos jovens com dores importantes, especialmente quem passa muito tempo sentado e não faz fortalecimento muscular. Um estudo australiano publicado no Spine Journal mostrou aumento expressivo de dor lombar em adultos jovens nas últimas duas décadas”, revela.
A dor lombar pode estar relacionada a outras doenças, como problemas degenerativos ou inflamatórios da coluna. As causas mais comuns são mecânicas, como sobrecarga, contraturas e degeneração dos discos e articulações. Mas também existem causas inflamatórias, como a espondilite anquilosante, e causas mais graves, como infecções ou tumores. “O importante é entender que a dor é um sintoma, não um diagnóstico em si. Cada tipo precisa de uma abordagem específica. Por exemplo, a dor acompanhada de perda de força, formigamento, alteração de sensibilidade ou dificuldade para urinar, pode indicar compressão de nervos. Também é preocupante quando surge após trauma, vem com febre ou perda de peso. Nesses casos, o ideal é procurar um especialista logo”, frisa Costa.
O diagnóstico da dor lombar começa com uma boa avaliação da história clínica e o exame físico. “O médico avalia fatores de risco, tipo de dor e limitação funcional. Exames como radiografia e ressonância magnética ajudam a confirmar suspeitas, mas devem ser solicitados com critério. Estudos mostram que até 30% das pessoas sem dor têm alterações de disco na ressonância, então o exame isolado não explica tudo”, destaca o médico.
Ele ressalta que a maioria dos pacientes melhora com tratamento conservador: fisioterapia, controle da dor e fortalecimento muscular. A intervenção cirúrgica é indicada quando há compressão nervosa importante, perda de força, ou quando o paciente tem dor incapacitante que não melhora com o tratamento clínico. “Apenas uma minoria precisa operar. Algo em torno de 5 a 10% dos casos, segundo dados da North American Spine Society. Nos casos certos, o resultado é excelente. Destaco que o foco é tratar a dor e corrigir o que está provocando o problema, e não apenas ‘mascarar’ o sintoma”, diz o nosso especialista.
Em casos crônicos, o acompanhamento deve ser multidisciplinar e em alguns casos, além de ortopedista, fisioterapeuta e educador físico, pode ser necessário apoio psicológico. “O objetivo é restaurar a função, melhorar a qualidade de vida e evitar que a dor se torne limitante. Dor crônica exige paciência e constância, não soluções rápidas”, ensina ele.
Cuidar da postura, fazer pausas a cada hora no trabalho, manter o peso adequado e praticar atividade física regular, são algumas das recomendações do especialista para prevenir a dor lombar em casa e no trabalho. “Praticar exercícios simples como caminhada, natação ou pilates ajuda muito. E a ergonomia também é essencial, ou seja, escolher a cadeira adequada, colocar a tela do computador na altura dos olhos e evitar se curvar por longos períodos”, cita. André Costa conclui com um recado especial: “Dor nas costas não é normal e não precisa ser parte da rotina. Quase sempre há tratamento e melhora significativa com medidas simples. O pior erro é ignorar a dor e deixar que ela se torne crônica. Procurar ajuda cedo evita complicações e devolve qualidade de vida”.

